Façamos Penitência e Soframos com Cristo

De um sermão de São Boaventura, bispo
(Opera Omnia, ed Quadracchi, IX, 463-470)


"São Francisco em Oração", por Caravaggio. Séc. XVII.

Em si mesma a cruz é horrível. Sobretudo, antes que Cristo tivesse sofrido. Porém, devemos desejá-la muito, por que a cruz é justamente uma fonte de vida. Todos procuram e desejam a vida eterna. Não se encontra ninguém, mesmo um delinquente, que não deseje e não a procure. Mas os maus não o fazem do modo correto, pois desejam possuir a vida eterna justamente com suas perversidades e seus torpes pecados. A estrada que conduz à vida eterna é outra: é aquela que passa pela ponte construída por Cristo, isto é, a cruz, que é combate e vitória sobre os nossos inimigos.

A cruz, quando vista superficialmente, causa horror, mas compreendida em seu sentido profundo é desejável. Considerada em si mesma, aparece como árvore da morte, mas para quem a considera em um sentido espiritual, ela aparece como árvore da vida, em vista daquele que sobre ela foi crucificado.

A cruz é a fonte da vida e dá essa vida com infusão da graça, como se lê na Carta ao Romanos: O salário do pecado é a morte; mas a graça de Deus é a vida eterna (RM 6,23). A cruz é a árvore da graça que nos vivifica, e nos tornamos novas criatura em Cristo se nos deixarmos irrigar pela água da graça, que brota da penitência. 

Existe uma árvore que tem o poder de levar o homem da aridez à vida verdejante, da morte à vida. É a árvore da cruz. Por que o Filho de Deus enfrentou a sua paixão pelos homens e não pelos anjos? Porque o homem, e não o anjo, é capaz de fazer penitência. Se, pois, a cruz é a árvore da graça que nos dá a vida, e se nós, que tantas vezes estamos mortos por causa dos nossos pecados, desejamos esta árvore, precisamos sofrer com o Cristo. 

Diz o Apóstolo Pedro: Cristo sofreu em sua carne e vós deveis armar-vos dos mesmos sentimentos (1Pd 4,1). Se não fizerdes penitência, não vejo como poderemos responder no julgamento. Se quiseres dar frutos espirituais, deverás morrer na carne. São João nos traz o exemplo do próprio Cristo: Se o grão de trigo, caído na terra, morrer, produzirá muito fruto (Jo 12,24). Se quisermos obter os frutos da árvore da vida, junto com o Cristo, que morreu na cruz, crucifiquemo-nos com Ele.  

Quem quiser se encontrar com o Senhor, encontrá-lo-á sobre a cruz. Por isso, quem se afasta da cruz, se afasta do Senhor. Quem deseja ardentemente a cruz e o Senhor, encontra-o sobre a cruz, da qual brotam fontes puras de graça.

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Nota: Este texto foi extraído da segunda leitura do Ofício das Leituras do dia 12 de janeiro, Memória Litúrgica de São Bernardo de Corleone, Religioso da Ordem I Franciscana. Lit. das Horas, Próprio da Família Franciscana do Brasil, I edição, 2021, Conferência da Família Franciscana do Brasil e Editora Vozes Ltda.


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