São Pio de Pietrelcina – Um Genuflexório, um Altar, um Confessionário
Pe. Fernando Néstor Gioia Otero, EP
Porque o Santo Padre Pio atraiu e atrai tantas almas? Talvez porque sua vida esteve inteiramente dedicada à oração, à celebração do Santo Sacrifício e à administração do Sacramento da Penitência.
Pietrelcina é uma cidadezinha do Sul da Itália, cercada de terras férteis, mas rochosas. Ainda hoje se pode caminhar por suas ruas estreitas, de pavimentação irregular, sentindo a atmosfera dos tempos de outrora.
Em 25 de maio de 1887, ela assistiu
ao nascimento de um menino, batizado com o nome de Francisco, que com o correr
dos anos se tornaria conhecido em toda a terra.
Trata-se do “mártir” do
confessionário, que possuía o dom de ler as consciências e passava de dez a
quinze horas por dia administrando o Sacramento da Reconciliação; do sacerdote
perseguido, que por pouco mais de dois anos chegou a ser proibido de celebrar a
sua Missa diária em público, de atender confissões e até de dar conselhos
espirituais àqueles que os solicitavam; do religioso que guardou obediente
silêncio ante tal situação; do frade capuchinho procurado por multidões vindas
de todo o mundo: São Pio de Pietrelcina.
A tudo isso soma-se o fato de ele
haver recebido em suas mãos, pés e lado o sinal patente, sobrenatural e
doloroso dos estigmas, os quais lhe marcaram a vida e o apostolado durante
cinquenta anos.
“Sou apenas um pobre frade que reza”
Sobre esse monge estigmatizado, que
assombrou e ainda assombra o mundo inteiro, comentou o Papa Paulo VI:
“Vede que fama teve o Padre Pio! […] Mas por quê? […] Porque celebrava a Missa
humildemente, atendia confissões desde a manhã até à noite, e era um
representante visível dos estigmas de Nosso Senhor. Era um homem de oração e de
sofrimento”.[1]
Um de seus biógrafos assim resume sua
existência: “um genuflexório, um altar, um confessionário”.[2] Essas três palavras indicam os lugares onde passou a maior parte de
seus dias, dedicados à oração, à celebração da Santa Missa e ao atendimento dos
milhares de penitentes que se ajoelhavam para pedir perdão, como também uma luz
no caminho de suas vidas.
Padre Pio orava a todo momento e em
todos os lugares. Era essa a fonte da qual ele extraía forças. “O que essas
pessoas querem de mim? Sou apenas um pobre frade que reza”, dizia de si mesmo.
Vivia da Missa e para a Missa
As Missas celebradas pelo Padre Pio
constituíam um maravilhoso espetáculo de piedade e de fé. Ele subia ao altar
sem as luvas que normalmente cobriam os estigmas das mãos, e quem pôde
contemplá-lo nessas ocasiões nunca esquecerá. Os fiéis se aglomeravam em frente
à igreja duas horas antes do início do Santo Sacrifício, a fim de ocupar os
primeiros lugares, e todos saíam tendo crescido em devoção.
Diz-se que o Padre Pio vivia da Missa
e para a Missa. A
esse respeito, na década de 1950 o embaixador francês na Santa Sé declarou:
“Nunca em minha vida assisti a uma celebração tão desconcertante e, no entanto,
tão simples. […] A Missa adquiria não sei que proporções e tornava-se um ato
absolutamente sobrenatural”.[3]
Mais do que para ouvir suas homilias, os fiéis acorriam para participar na
celebração que era, por si, uma pregação. Todos queriam ter contato
com ele. No caminho para o altar ou para o confessionário, procuravam tocá-lo,
amontoavam-se junto a ele, expunham-lhe suas tristezas, pediam orientação.
Quando, em setembro de 1916, ele
chegou a San Giovanni Rotondo – ao “convento da desolação”, chamado assim por
um capuchinho da época devido ao fato de muito poucos fiéis frequentarem sua
igreja – ninguém imaginava que, anos depois, multidões se dirigiriam para lá
desejosas de assistir às suas Missas e de se confessarem. Almejavam elas
receber conselhos espirituais, resolver problemas familiares ou mesmo que lhes
acontecesse um milagre.
“Mártir” do Sacramento da
Reconciliação
Os testemunhos de penitentes que se
confessaram com o Padre Pio revelam o quanto ele se mostrava severo com
quem não estava compenetrado da gravidade de seu pecado nem determinado a
abandoná-lo, e, ao mesmo tempo, paternal, compreensivo e encorajador com quem
se arrependia de suas fraquezas.
São Pio ouvindo confissões em San Giovanni Rotondo, por volta de 1960.
Alguns dos que a ele acorriam
deparavam-se com atitudes talvez desconcertantes, mas isso não os desanimava:
invariavelmente voltavam a procurá-lo. “É pecado, é pecado” – costumava repetir
a quem recebia o Sacramento da Reconciliação – “Se você não quer deixar de
ofender a Deus, o que vem fazer aqui?”
Os penitentes do Padre Pio provinham
não apenas das cidades vizinhas, mas também de toda a Itália e do exterior.
Como seu número aumentasse sempre mais, optou-se por distribuir senhas e fazer
turnos, chegando, em alguns dias, a estender-se o atendimento por até dezesseis
horas! No ano de 1967, ele confessou cerca de quinze mil mulheres e dez mil
homens, cerca de setenta pessoas por dia.
“Uma multidão de almas sedentas de
Jesus cai sobre mim” – dizia aos seus – “Não me deixam livre um momento”. O dom
de ler as consciências e esquadrinhar os corações o tornou célebre: “Eu os
conheço por dentro e por fora”, reconhecia. Àqueles que há muito tempo não se
confessavam, ele os lembrava de seus pecados esquecidos.
O Padre Pio passou grande parte de
sua vida no confessionário, ouvindo as misérias e dores humanas com admirável
paciência. Pode ser considerado um “mártir” do Sacramento da Reconciliação. “Sinto-me bem, mas estou
sobrecarregado com centenas e milhares de Confissões que ouço dia e noite. Não
tenho um instante para mim”, declarou certa vez.
Enviado por Deus para converter os
homens
Exausto pela generosa entrega a seus
irmãos, o capuchinho estigmatizado expirou na madrugada do dia 23 de setembro
de 1968, com o rosto sereno e o rosário em suas mãos. Tinha oitenta e um anos.
Bento XV, o Papa que governava a
Igreja quando a fama do Padre Pio começava a espalhar-se pela Itália,
descreveu-o como “um homem verdadeiramente extraordinário, dos que Deus
envia de tempos em tempos à terra para converter os homens”.[4]
No dia de sua canonização, São João Paulo II afirmou: “Padre Pio foi um generoso dispensador da misericórdia divina, estando sempre disponível para todos através do acolhimento, da direção espiritual e, sobretudo, da administração do Sacramento da Penitência”.[5]
[1] SÃO PAULO VI. Audiência aos Superiores da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, 20/2/1971.
[2] DE RIPABOTTONI, OFM Cap, Alejandro. Padre Pío de
Pietrelcina. Perfil biográfico. San Giovanni Rotondo: Padre Pio da
Pietrelcina, 2018, p.172.
[3] D’ORMESSON, Wladimir, apud BOUFLET, Joachim. Padre
Pío – De la condena del Santo Oficio al esplendor de la verdad. Bogotá: Paulus, 2010, p.292.
[4] DE RIPABOTTONI, op. cit., p.81.
[5] SÃO JOÃO PAULO II. Homilia na cerimônia de canonização do Padre Pio de Pietrelcina, 16/6/2002.
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